O conceito “alergia ao dinheiro” é abordado pelo autor Reinaldo Domingos no livro “Por que enfrentamos crises e não estamos preparados?”. Segundo Domingos, esta alergia ao dinheiro não está relacionada ao contato direto com as cédulas ou as moedas, mas sim à representatividade do dinheiro para o indivíduo.
Apesar de nunca ter ouvido falar no termo “alergia ao dinheiro”, André Bona, educador financeiro, definiu a expressão como algo ligado a pessoas que não enxergam o dinheiro como um fator importante de suas vidas. Segundo ele, o dinheiro é um fator indispensável, e muito importante, sendo necessário para o desenvolvimento pessoal e, ainda que não seja o único fator, nem o mais importante, é fundamental na busca pela felicidade. “É um dos tipos de conhecimento que precisam ser dominados ao longo do tempo mas, às vezes, as pessoas desenvolvem um bloqueio, até uma certa ojeriza. Querem distância do assunto porque entendem que o dinheiro é algo sujo ou é algo é muito mesquinho, mercenário, mas isso, na minha visão, é um erro”, afirmou Bona.
Já o autor do livro, quando fala sobre essa expressão, se referindo à compulsividade e à vontade de gastá-lo a todo tempo, sem pensar em poupá-lo ou reservá-lo para algo no futuro. “Muitas pessoas não conseguem reter o dinheiro, ele simplesmente passa pelas mãos delas. É como se tivessem uma espécie de alergia mesmo. Algo que faz com que as pessoas tentem se livrar do agente alérgeno o quanto antes”, diz o autor do livro, que também é PhD em educação financeira.
De acordo com Bona, o que causa a compulsividade por compras é um fator psicológico, que faz com que se tente buscar prazer momentâneo em algo. “Normalmente, a compulsão se apresenta como resultado da ansiedade do indivíduo e ele descarrega algumas tensões emocionais em algumas outras coisas. Algumas pessoas descarregam em comida, comendo compulsivamente. Outras pessoas gastando, e tornando habitual a má conduta financeira”, afirma o educador.
Como o autor do livro chegou ao termo “alergia ao dinheiro”?
O autor constatou que existe esta tal “alergia ao dinheiro” após atender diversas pessoas, como terapeuta financeiro, que apresentavam, entre seus problemas e traumas, a falta de habilidade para dominar suas finanças.
“Fica evidenciado que o dinheiro, para boa parte das pessoas, é tratado como fim e não como meio. Isso se agrava ainda mais quando migramos do papel moeda para o digital, ou seja, não o enxergamos, tampouco dominamos o caminho que ele percorre. Ao nos depararmos com a necessidade de tê-lo, nos frustramos e até praticamos a autossabotagem, e possivelmente nos questionamos se ganhamos pouco ou se somos pouco valorizados ou mesmo tentamos descobrir onde todo o valor foi gasto”, afirma Domingos.
O autor do livro, entretanto, deixa claro que gastar o dinheiro não é um problema. Pelo contrário, segundo ele, é importante gastar. O recomendado é apenas que a pessoa gaste com equilíbrio entre suas necessidades e sonhos e de uma maneira inteligente e não desordenada.
Assim, para dar início ao tratamento dessa “alergia”, a pessoa deve primeiro procurar entender em que ela gasta o dinheiro que está ganhando. Encontrando o destino dele, ela poderá buscar soluções para melhorar seu comportamento. “Não devemos amar nem adorar o dinheiro, mas sim respeitá-lo, porque ele é o meio que nos leva a realizar nossos sonhos e propósitos”, assegura Domingos.
Sobre o livro “por que enfrentamos crises e não estamos preparados?”
A obra de Reinaldo Domingos é uma reflexão sobre o forte impacto das crises na vida dos brasileiros. O livro também trata do que estas pessoas precisam aprender para enfrentar estes momentos de adversidade, especialmente as econômicas, de forma estruturada.
O livro foi escrito em meio ao confinamento ocasionado pela pandemia de coronavírus, quando o autor observou as características das pessoas e de famílias que entraram em desespero devido aos problemas financeiros.
A importância da educação financeira
De acordo com o educador financeiro, André Bona, a maioria das pessoas não está preparada para crises porque não consegue se conter com os gastos ou por falta de educação financeira. O fato de não se conter com gastos pode acontecer devido ao comportamento emocional ou à falta de informação. “O simples fato de não conseguir se organizar financeiramente impede que a pessoa faça uma previsão ou uma defesa para o momento de crise. A pessoa só consegue se preparar depois que ela adquire consciência e o entendimento de como funcionam suas finanças pessoais”, diz Bona.
Para dominar seu bolso, a pessoa precisa estar aberta a entender a importância e a finalidade do dinheiro. “[o dinheiro] Vai se tornando cada vez menos importante. Pois quanto mais você domina as técnicas de gestão financeira pessoal, mais você passa a tomar todas as suas decisões baseadas naquilo que você deseja e não naquilo que ele [dinheiro] determina que você pode ou não fazer”, explica Bona.
Fonte: Exame